quarta-feira, 16 de junho de 2010

A doença que mata a opinião no futebol

Você sofre de Instantanite aguda?

As distâncias estão cada vez menores. A África do Sul está logo ali. A Copa do Mundo é apenas mais uma demonstração de que o mundo ficou menor, que as distâncias diminuíram. O gol sai e a televisão mostra, o rádio descreve e os jornais on line já escancaram a foto da bola entrando e descrevem que a velocidade dela é superior ao gol marcado em 1966, no décimo quarto jogo disputado pela manhã na história dos Mundiais. Instantâneo!

A informação instantânea é fruto do estreitamento que cabos e satélites proporcionaram.

Entretanto, a geração que vive a era do instantâneo sofre de instantanite aguda. Tudo tem que ser rápido e somos convidados a crer no rápido. Respostas rápidas caminham lado a lado com o erro de avaliação.

Trabalhando como comentarista, em vários momentos, sou perguntado (ao vivo) se o Brasil do Dunga vai fracassar, ou se os espanhóis tremeram, etc, etc. Alguém tem tais respostas prontas? Distante da Instantanite Aguda, o comentarista, na minha visão, deve responder alicerçado em conceitos. Deve trazer argumentos e dividir com o público mais uma opção de pensamento.

Agora, com o fim da primeira rodada da Copa, a pergunta mais ouvida é a mais previsível possível: qual é o melhor time da Copa? A resposta não é simples e vem carregada de conhecimentos e conceitos prévios. O mais comum é falar que a Alemanha foi a melhor. No entanto, não existe um medidor de futebol. A instantanite aguda exige respostas sem argumentações, ou seja, exige o erro!

Antes de tudo quero saciar o desejo de quem sofre do mal da I.A.. Alemanha, Chile e Coréia do Sul jogaram o melhor futebol da primeira rodada.

O Chile foi envolvente e buscou trabalhar a ofensividade em todo jogo. Com movimentação em alta velocidade de Sanchez e opção centralizada com Valdívia. O Chile encantou? Longe disso! Contra a fraca Honduras era mesmo a hora de atacar. Jogando em um grupo de defesa forte como é a Suíça e toque inteligente que tem a Espanha, a opção chilena era pelo ataque. Vai continuar assim? Provavelmente não. O futebol que era bonito corre o risco de ser fraco de novo. Ponha na conta da I. Aguda. A doença quer respostas rápidas e quando recebe as respostas espera para conferir e depois cobrar.

A Coréia do Sul jogou um belo futebol. Calma sofredor de I.A., eu sei que foi contra a frágil Grécia. Estou falando do jogo, do que chama a atenção. Do toque, das ultrapassagens, da leitura correta da hora de marcar saída de bola e de fechar coordenadamente o meio. Cobrar dribles rápidos, curtos, longos da Coréia é demais!
Vamos aos alemães: quer contexto? O portador de I.A. odeia contextos e é vítima do contexto.

A Alemanha foi a seleção que mais sofreu perdas para a Copa. Vamos lembrar que o goleiro Enke (talvez vítima da I.A.) se atirou na frente de um trem e morreu na preparação para a Copa. Enke representava o novo. Herdeiro da camisa de Khan, Ilgnner, Lehmann e Schumacher. Não deu tempo para ele e Adler assumiu a 1. Até pouco antes do início da Copa. Em abril, o novo titular fraturou duas costelas e foi afastado. Em meio a tantas dúvidas, o goleiro Neuer assumiu a posição.
O capitão Ballack também foi cortado. Os alemães foram a campo contra a fraca Austrália. É verdade que a Austrália jogava junto há 15 anos e também é verdade que Pim Verbeek colocou em campo um time com três zagueiros, um lateral e mais cinco volantes. Deu Alemanha! Mergulhada em um contexto de azar e dúvidas, com média de idade mais baixa da Copa, sem referências no elenco – deu Alemanha.

Um time que trocou passes rápidos e envolventes, que teve um treinador que só fez modificações ofensivas e que não jogou com nenhum volante pegador.
Obviamente, quem quer respostas frias e imediatas não vai ter tempo pra ler tudo isso e não perceber o cenário. Quem sofre de I.A. prefere crer e desacreditar, bater e cuidar. Despreza os cenários e corre riscos quando passa o trem.

3 comentários:

Marina Oliveira disse...

Depois de ler sua coluna (até o final!) fiquei até me perguntando se sofro de Instantanite Aguda. Mas penso que não. Assistir futebol, ver os lances, comentar (e ouvir comentários), até mesmo quando o futebol se apresenta ruim em campo, isso tudo é tão bom! Pra que respostas rápidas e frias? Pra que a ansiedade em torno de resultados? Até porque em futebol tudo acontece, tudo pode acontecer. Mas é normal, principalmente pra quem não convive com futebol, querer respostas rápidas.

Abraços.

Claudinei Souza disse...

"O tolo fala; o sábio se cala e o ignorante discute".
Avaliar qual a melhor equipe, através das classificatórias, é um erro clássico e antigo de muitos profissionais do esporte e também de muitos torcedores.
O que esquecem é que, à partir das oitavas, só poderá haver um classificado a cada confronto.
E, em mata-mata, o que conta não é apenas o melhor elenco e sim a melhor estratégia de ataque e defesa, a maior dedicação dos atletas para o alcance da vitória e, claro, um pouco de sorte!
Quando isso acontece, dizem que a zebra estava solta na partida.
A Suíça bateu a Espanha pelo mínimo: 1X0
Zebra ou competência para anular uma equipe tida como melhor tecnicamente?
Até agora nenhuma me impressionou ao ponto de eu sugerir que tal seleção será a provável campeã mundial.
Você está certo. Ainda é muito cedo para uma avaliação mais bem embasada sobre a futura campeã na África do Sul.
Um grande abraço, Marra!
Felicidades aí em Sampa.

Cassio Arreguy disse...

É meu caro, o mundo de hoje não tem muito espaço para a cautela, a análise feita com calma e equilíbrio. O mundo da internet, do microondas, da TV a cabo, dos entendidos e especialistas, dos "pseudos", como diria Paulo Francis. Sem contar que, em futebol, notadamente em Copa do Mundo, teorizar demais, se ater apenas ao campo de jogo, não é o caminho mais adequado.