terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Uma conta sem data de vencimento e com juros

O cronista não deve se preocupar com o aplauso.
O cronista não deve se abalar com a crítica.
Exercendo a função, ouço e leio tanta coisa diferente.
Às vezes vejo que muita gente está no lugar errado, deveria estar no meu.
São pontos de vista tão claros e bem embasados que me fazem pensar, repensar.
É óbvio que existe um ENTRETANTO.
Entretanto, é perceptível que uma doença infectou nossa sociedade.
Quero crer que os anos de ditadura contaminaram a análise.
Muitos anos calados fizeram o povo parar de pensar.
Se alguém fala uma verdade que não agrada, a resposta é dada em forma de xingamento e humilhação.
Tantos anos e tamanha violência fizeram morrer a crítica e a auto-crítica.
Se um assunto é abordado e afeta o time do coração, fica decretado o muro da discórdia e desconfiança.
Um elogio serve para fazer justiça ou para levantar suspeita.
E os sintomas da doença que nos aflige são muitos.
Condenamos o preconceito e tratamos o argentino como seres nocivos?
Apregoamos a justiça e rimos quando o fraco é esmagado?
Declaramos o gol como roubado e não damos ao árbitro a defesa?
Decretamos que o goleiro não presta e entoamos o cântico da superação?
Somos hipócritas.
Não podemos nos calar, mesmo cientes de nossa hipocrisia.
A doença de nossa sociedade requer um tratamento com posologia bastante complicada.
Pensar - inúmeras vezes antes de falar.
Repensar - sempre que alguém argumentar.
Embasar - sempre que formos emitir alguma opinião.
A reação adversa é grave: quem procura pensar, repensar e levar luz aos fatos corre o risco de ficar desanimado, estranho e fora do contexto.

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