sábado, 10 de abril de 2010

A Federação Mineira de Futebol e o discurso inconsistente

Vários pontos de interrogação insistem em pedir espaço no Estadual em Minas. Aquelas dúvidas que inquietam torcedores, que tiram sono ao perceberem seus times em campo são respondidas pela tabela a cada jogo. Outras dúvidas, imperceptíveis a alguns olhos e gritantes a outros, somente serão respondidas com desdém e arrogância.

A Federação Mineira de Futebol

Depois de escândalos, CPIs e baixarias a Federação Mineira de Futebol trocou de mãos. O mais normal seria ter uma certa paciência, já que o presidente que assumiu garantia estar por fora de tudo o que ocorria (mesmo sendo vice na gestão anterior). Paciência pedida e paciência concedida. Entretanto, a sucessão de erros evidenciou a falta de zelo e de limites. Um dos muitos pontos altos na relação de escândalos da Federação se deu no dia do aniversário de 101 anos do Atlético, time que sempre questionou com veemência a direção da FMF e time de coração do presidente, que é conselheiro alvinegro. A noite de 25 de março de 2009 foi marcada pelo arrombamento do cofre da Federação. Um vigia foi espancado e os criminosos levaram cerca de R$ 1 milhão. Obviamente um imenso ponto de interrogação tomou conta de todos. Por que o cofre da Federação guardava tanto dinheiro? A resposta conseguiu ser a pior possível. O presidente da Federação, Paulo Schettino – ex-delegado de polícia – revelou que guardava o dinheiro no cofre já que não poderia depositar em uma banco e correr o risco de sofrer um bloqueio eletrônico em razão de uma dívida com o INSS. A credibilidade da Federação escorreu pelos dedos.
Arbitragem em Minas
A comissão de arbitragem também foi alvo de inúmeros questionamentos. Lincoln Afonso Bicalho, ex-árbitro falecido recentemente, foi acusado pela direção do Atlético de armar resultados contra Atlético e América. Lincoln se afastou já com a saúde bastante debilitada e o professor de futebol da UFMG, Jurandy Gama Filho assumiu o comando da arbitragem mineira. O presidente do Cruzeiro tratou de pontuar que Jurandy era ligado ao Atlético.
O discurso do novo responsável pela arbitragem parecia ser inovador. Até de profissionalismo foi falado. O fascínio dos holofotes e microfones deixava escapar outros pontos do projeto de Jurandy. Seria dada uma maior ênfase ao trabalho físico. Os árbitros seriam avaliados com mais rigor e até um patrocínio seria tentado para investir na formação de novos árbitros e reciclagem do quadro atual. O ano passou e 2010 chegou com novos projetos, que levados à luz de duas ou três perguntas, evidenciavam mais despreparo que o esperado. Um projeto que poderia ser bom é o de concentrar os árbitros antes dos jogos. Entretanto, a falta de recursos fez transparecer a predileção pelos times da capital e a comissão se viu obrigada a esclarecer que os árbitros se concentrariam em hotéis apenas para os jogos de Atlético e Cruzeiro. O papo de profissionalismo chegou a encantar alguns, no entanto, a falta de argumentos concretos tratou de converter os sorrisos dos árbitros em desconfiança.
Bola rolando, árbitros expostos, paixões em alta e críticas e mais críticas. A comissão de arbitragem criou um balcão de reclamações. Os times que sentiam prejudicados reclamavam no balcão de segunda à noite. Os erros só aumentavam.


Ricardo Marques e André Luiz Martins

Assim que terminou a fase de classificação o único árbitro FIFA de Minas surpreendeu a todos e pediu licença até 12 de abril. Os motivos são até nobres: Ricardo é aluno de Direito e ele sentiu que deveria priorizar momentaneamente o curso. A escala dos árbitros saiu e Ricardo não apareceu em nenhum jogo. A surpresa aumentou e os pontos de interrogação voltavam vazios. André Luiz Martins Dias Lopes, árbitro jovem e revelação de 2009, também pediu licença. A diferença é que André teria até se exaltado com os responsáveis pela arbitragem em Minas e Ricardo, mais calado, preferiu manter distância e frieza. Toda a paciência que a comissão pediu visando proteger os jovens árbitros cai por terra quando o árbitro experiente rompe com a Federação.

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As perguntas saem naturalmente e as respostas são padronizadas. Quando o assunto é a licença de Ricardo Marques a resposta não se sustenta a dois ou três segundos de atenção. Que Ricardo queira se dedicar ao estudo, tudo bem. Entretanto, Ricardo Marques é um jovem de 30 anos, árbitro FIFA, apitou a final da Copa do Brasil, pode ser escalado para qualquer jogo da Libertadores – a pergunta que não encontra respostas é simples: ele está investindo mais na carreira de “aluno” e deixando de lado a realidade como apitador? Se Ricardo quer tanto investir no estudo, é possível entender os motivos que o levaram a apitar dez jogos dos onze disputados na fase classificação e pedir para sair na hora das partidas eliminatórias? Por que Ricardo não se ausentou antes? E por quais motivos o jovem André Luiz Martins Dias Lopes, que apitou a primeira partida das quartas de final entre Ipatinga e Tupi, pediu licença também? A resposta ensaiada é de que André é um economista de uma grande empresa e que os compromissos profissionais exigiam mais dele. Ora! E os compromissos não exigiam antes? Ele já não era economista antes e mesmo assim não preferiu investir na arbitragem? E os sorteios? Alguém, além da batida que a TV Globo deu no penúltimo sorteio, tem acompanhado a retirada das bolinhas com os nomes dos árbitros para cada jogo? Por que a Federação sorteou os árbitros que trabalharão na primeira rodada da semifinal antes dos últimos jogos das quartas de final? E o cofre? E a dívida como INSS? É aceitável dar festa de abertura de campeonato e ter dívida com o INSS? E o patrocínio da arbitragem? Com a verba recebida não seria possível investir na tal concentração para todos os jogos? Não seria aconselhável destinar recursos para o aperfeiçoamento dos árbitros afastados? Qual a verba investida na formação de novos árbitros? Qual o valor do patrocínio? É mesmo R$ 300 mil?
São apenas perguntas que merecem respostas menos óbvias e mais elaboradas

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