sábado, 17 de abril de 2010

Sessão "Me engana que eu gosto" III

Os sortudos, os azarados e os confessos

A segunda rodada das quartas de final do Mineiro começou bem antes de a bola rolar. Na hora marcada para a execução dos sorteios dos árbitros uma equipe de televisão chegou para filmar o entra e sai das bolinhas. A Federação recebeu a equipe com simpatia e informou que o sorteio seria realizado em cinco minutos, e assim foi.
Os nomes indicados foram ao trabalho, contrariaram uns e alegraram outros – como de costume.
E a bola rolou, os árbitros erraram, acertaram e a vida seguiu.


André Luiz Martins Dias Lopes

Os nomes de André Luiz Martins Dias Lopes e Ricardo Marques Ribeiro não apareceram nas escalas. Pelo contrário, os dois entraram com pedidos de afastamento do campeonato. André Luiz, árbitro promissor - que carrega fama de mostrar muitos amarelos – pediu afastamento por um mês. Pressionada, a Comissão de Arbitragem, justificou de duas formas a ausência de André. Para o América Futebol Clube foi falado que o árbitro estava lesionado e para a imprensa (Rádio Globo) a justificativa foi a de que a vida profissional dele estava agitada. A empresa dele estava precisando mais e mais de seus serviços.
As justificativas se mostravam inconsistentes. André Luiz encaminhou um ofício à imprensa e, com veemência, assegurou que estava bem física e clinicamente. A inconsistência era tão grande que André Luiz acabara de passar nos testes físicos da CBF.
A justificativa profissional também não se sustenta quando percebemos que o nome dele estava em 10 das 11 rodadas da fase classificatória. Na classificação ele pode trabalhar e na fase mais complicada não? É bom lembrar que a primeira partida das quartas, entre Ipatinga e Tupi, André Luiz apitou e não fugiu de suas características mostrando vários amarelos.


Ricardo Marques Ribeiro

O único árbitro FIFA de Minas Gerais trabalhou em 10 dos 11 jogos da fase da classificação. Ricardo trabalhou também na Copa do Brasil e poderia ter apitado na Libertadores. Mesmo tendo apenas 30 anos, Ricardo carrega no currículo a participação na final da Copa do Brasil de 2009. Entretanto, Ricardo não trabalhou nos jogos das quartas de final. Ele surpreendeu a todos entregando um pedido de licença até o dia 12 de abril. Os motivos? Particulares. O árbitro FIFA, que é formado em jornalismo e estudante de Direito, tentou justificar sua licença alegando que a vida acadêmica estava deixada de lado e necessitava de mais atenção naquele período. Ricardo Marques nem participou dos exames da CBF, realizados no dia 05 de abril. O que estranha é que os estudos também tomavam tempo na fase de classificação e, ainda assim, ele só não trabalhou em uma rodada. Ricardo poderia sinalizar que pode investir na futura profissão, no entanto, ao voltar da licença, Ricardo Marques pegou um avião e foi para o Espírito Santo. Lá, ele participou do treinamento da CBF, realizou testes físicos e foi aprovado. Ao sair de Belo Horizonte e optar pela realização dos exames da CBF em Vitória, Ricardo perdeu uma prova de Direito Administrativo, na Faculdade. Algo além da vida acadêmica pode ter retirado Ricardo Marques da seqüência. Como alguém declara priorizar a vida acadêmica e, uma semana depois, perde uma prova de Direito Administrativo para realizar os exames que um árbitro FIFA tem que cumprir? O que teria desapontado e desencantado o árbitro Ricardo Marques Ribeiro?


A Comissão de arbitragem

Após a saída do ex-árbitro Lincoln Afonso Bicalho, o cargo de responsável pela arbitragem em Minas foi ocupado pelo professor de futebol, da Escola de Educação Física da UFMG, Jurandy Gama Filho. Ao assumir, Jurandy já ouviu declarações do presidente do Cruzeiro, Zezé Perrella, de que Jurandy teria ligações com o Clube Atlético Mineiro.
A Comissão de Arbitragem teria como funções primordiais renovar o quadro, passar e dar credibilidade aos árbitros. Visando atingir a credibilidade, Jurandy abriu, ao final das rodadas, um papo com os presidentes chorosos e revoltados. O balcão de reclamações recebia com freqüência alguns dirigentes e Jurandy ocupou várias vezes os microfones para informar que convencera mais um presidente de clube.
Entretanto, algumas medidas - proclamadas como avanço – escancaravam as predileções da FMF. A Comissão de Arbitragem abria sorrisos para falar que os árbitros estavam se concentrando para os jogos. Os sorrisos murchavam e as sobrancelhas franziam quando Jurandy tinha que responder se todos os árbitros estavam concentrados. A resposta rebuscada era que ainda não havia recurso suficiente para que todos os árbitros e em todos os jogos pudessem se concentrar. Com e exigüidade de recursos a opção seria concentar apenas para os jogos mais importantes, ou seja, os jogos de Cruzeiro e Atlético. A credibilidade escoava. Escoou ainda mais quando tornou-se público e estampado o patrocínio obtido pela Comissão de Arbitragem. Se não existia recurso suficiente para concentrar...
Os recursos poderiam ter vários destinos: aparelhagem, treinamento, melhor remuneração, concentrações, premiações, etc. Em conversa com os árbitros o que foi dito era que o investimento seria em relógios especiais para a arbitragem e para melhorar a remuneração da Comissão de arbitragem e árbitros. Infelizmente, até hoje, a imprensa e os árbitros não foram premiados com uma prestação de contas por parte da Federação e Comissão. O Ministério Público teria sido informado e se dispôs a investigar quem recebeu o patrocínio, quem deu o recibo. Uma fonte ligada a Federação Mineira chegou a soltar a seguinte frase: “tomara que a Federação tenha recebido, mas eu acho que não foi ela quem recebeu”.
Privilegiando um dos esquecidos princípios – a credibilidade - a Comissão de Arbitragem deveria informar o valor do patrocínio e o destino dos recursos. Outra fonte ligada aos árbitros me informou que o valor é próximo de R$ 300 mil.



Elmivan Alves Andrade e Josué Otaviano Santos

Bem menos badalados que Ricardo Marques e André Luiz, e distantes das listas da FIFA e CBF, os árbitros Elmivan Andrade e Josué Otaviano viram o início de 2010 como o ano da virada nas suas vidas como apitadores. Elmivan Alves Andrade já um árbitro mais rodado e pouco prestigiado. Indicado para o quadro de árbitros pelo quase conterrâneo Alício Pena Júnior, Elmivan trabalhou logo na primeira rodada do Estadual. Deve ter comemorado com a família, no entanto, a festa parou por ali.
Outro que deve ter comemorado a presença na escala de árbitros foi Josué Otaviano Santos. Josué brilhou mais que Elmivan, não que tenha trabalhado mais. O brilho se deu pelo fato que o jogo entre Uberlândia e América ter sido televisionado, pelo PFC. O que intriga é a presença de Josué em um jogo de “vitrine” e o repentino desaparecimento dele das outras rodadas do campeonato. Um fato talvez possa ajudar a esclarecer. Josué Otaviano Santos não era para ter sido escalado. Na verdade ele não foi escalado para o jogo. O site Globoesporte.com (link: http://www.globominasmineiro.com.br/noticias/detalhe/1462) publicou a verdadeira escala de árbitros para a partida. Entretanto, o nome de Átila Carneiro não é bem visto pela direção do Uberlândia, que fez pressão e exigiu a alteração da escala. Jurandy Gama, informado que o presidente Everton Magalhães - do Uberlândia – havia ficado revoltado com o nome de Átila, tratou de exigir a alteração da escala e Josué Otaviano Santos teve a oportunidade de trabalhar.
O incrível das escalas de árbitros em Minas, que indica que os sorteios eram dignos de batidas quase que policiais da imprensa, é que os dois árbitros não apitaram mais. A credibilidade não foi alcançada.
Em busca da credibilidade perdida, o site da Federação optou por um posicionamento diferente do habitual e publicou quem participou do sorteio da última rodada das semifinais. Citou nominalmente o representante do Ministério Público, os representantes do Clube Atlético Mineiro e os órgãos de imprensa presentes. Tamanha preocupação com a lisura dos sorteios não foi vista no sorteio dos árbitros indicados para os jogos da Segundona mineira. O site não relata a presença de nenhuma testemunha acompanhando o sorteio. As outras rodadas e os outros sorteios também não foram tão concorridos e a FMF não informou se havia plateia. A divulgação - no site da FMF - de nomes de equipes de televisão, rádio e jornais se faz totalmente dispensável. É óbvio que as imagens, sonoras e declarações seriam levadas ao público. Então seria uma confissão de erro quando os outros sorteios não mereciam e não mereceram a mesma divulgação e estampada lisura? Qual a necessidade de se passar por correto?
Por que Elmivan Alves e Josué Otaviano foram deixados de lado? Para atender às escalas de outras divisões? E o discurso de renovação?

A Federação Mineira de Futebol e a Comissão de Arbitragem fazem claramente a opção por justificar pontos e situações. Justificativas não explicam, justificam. Entretanto, justificar ainda seria compreensível. No entanto, à luz de perguntas mais incisivas, a opção feita pelos dirigentes é a de tentar escapar.
- Por que Ricardo Marques pediu afastamento e depois perdeu prova?
- Por que André Luiz pediu o afastamento?
- Por que Átila Carneiro não pode cumprir a escala de árbitros em Uberlândia?
- Por que os árbitros só se concentram para os jogos de Atlético e Cruzeiro?
- Por que o dinheiro do patrocinador não é investido nos árbitros?
- Por que não foi feito um investimento na reciclagem de árbitros afastados?
- Por que não foi feita uma prestação de contas?

2 comentários:

Marina Oliveira disse...

Essa discussão sobre FMF e arbitragem está dando mesmo o que falar. Ouvimos muitos comentários a respeito e as reclamaçoes sobre a falta de clareza nas decisões são gerais! Mesmo assim, parece que é uma história longe de terminar em final feliz.

Custodio Neto disse...

Boa Mário ... por que, por que e por que ...