segunda-feira, 24 de maio de 2010

O futebol que aprendi a gostar não é preconceituoso


Cresci no meio da brincadeira do futebol.
Algumas vezes fechávamos as esquinas da R. Guaranésia, entre Varginha e Saldanha da Gama.
Outras vezes um de nossos amigos ficava da esquina preparado para gritar que o ônibus da Viação Andrade Costa estava chegando. Saudades da Floresta! O bairro das doces lembranças.
Tínhamos um campeonato mensal entre dois times.
Um time usava camisas do Cruzeiro e o outro as do Atlético.
Cruzeirenses jogavam pelo Atlético e atleticanos pelo Cruzeiro.
As famílias dos meninos de 10 a 15 anos torciam, gritavam, faziam a festa.
Tínhamos até contrato e campeonatos que duravam uns três finais de semana.
Meu primeiro campeonato foi com a camisa do Cruzeiro. Fui campeão!
Um mês depois meus amigos me levaram para o Atlético e... fui campeão fazendo dois gols na final.
No nosso mundo lúdico de amigos e muita bola, rompemos cedo com as paixões irracionais.
Usávamos a camisa dos adversários com a mesma tranquilidade que as dos nossos times.
Na Copa de 82, eu, Guilherminho, Ronaldo Lumbriga, Willian, Fabiano, Guilherme, Beto, Toninho, Juca, Xéu e muitos outros, sentimos a dor da derrota.
O que não impedia de jogar um controle ou uma paulistinha acreditando que éramos Paolo Rossi, Grazianni ou até Zoff.
Sei que sou um felizardo e não pretendo que todos compreendam a realidade daqueles meninos.
Por termos brincado pelo Atlético e pelo Cruzeiro, por termos defendido como Dino Zoff e marcado como o Bambino D'oro, não consigo compreender os motivos que levam empresas, que trabalham com a informação e pelo bem comum, a incentivarem o preconceito e até o ódio pelos argentinos.
Minha visão é totalmente diferente. Adoro futebol e até por isso gosto muito do futebol argentino.
Sempre achei Maradona um gênio, um mito. Herói de minha adolescência.
Obviamente que tinha as minhas camisas da seleção de 82.
Nutri por aquele time uma paixão inesquecível. Time dos sonhos.
Mas não consigo amar e odiar. Ódio e amor não convivem bem.
Quando leio a lista dos convocados de Dunga, sinceramente, não consigo chamar o "lúdico".
Quando vejo que Diego Maradona tem Di Maria, Tevez, Milito, Messi, Higüaín e poderia ter Cambiasso...ah! tenho vontade de ver jogar.
Tenho muita vontade de ver Gerrard e Lampard lado a lado.
Não aguento mais esperar Xabi, Iniesta, Xavi, Fábregas, Torres e Villa entrarem em campo.
Quero ver Van Persie em velocidade depois de receber de Robben um passe preciso.
Não consigo ser xiita. Adoro futebol e valorizo a qualidade.
Se a qualidade for verde e amarela vou gostar. Vou me identificar com um povo sofrido que não questiona e chora pela seleção brasileira.
Se a qualidade estiver com a turma de Diego, vou parar para ver e vou torcer para que a qualidade siga em frente.
Se for com Steve G? Vou adorar. Sou fã do mestre inglês.
Meu coração, meu modo de ver futebol não tem nada com patriotismo.
Adoro a mistura e a cultura de meu país.
Adoro a bola bem jogada em qualquer país do mundo.
Foto da turma da Rua Guaranésia, Floresta.
Copa de 82.
Eu e Ronaldo em pé.
Guilherme, Guilherminho e Fabiano agachados.

7 comentários:

Anônimo disse...

Concordo em genero, n° e grau ko o q vc disse...sempre preferi enaltecer as qualidades do meu time ao inves de simplesmente criticar os possiveis defeitos dos outros times, nunca deixando de reconhecer as qualidades dos adversarios

Renato Zanata Arnos disse...

Caro amigo Marra, lembrei demais da minha infância aqui em Niterói, no bairro do Gragoatá, bem na beira da Baía de Guanabara.
Mais um texto seu carregado de poesia e que nos ensina a viver.
Palavras que catucam a 'boa saudade' e reforçam a nossa convicção de que 'caretas', são os outros!
Boa semana aí pra ti!
Abração,
Renato Zanata

Walter disse...

Marra,

bacana o seu texto! É isso ai mesmo, futebol, como já dizia um poeta espanhol: "É a coisa mais importante dentro das menos importantes". Sou também dessa época, e sempre ví futebol dessa maneira. Do contrário é choro e ranger de dentes.
Estou sentindo a sua falta no Panorama esportivo, da radio globo. Por acaso você saiu de lá?
Um grande abraço!

Blog do Marra disse...

Valeu, amigos!
Durante todo o ano ouvimos discursos politicamente corretos e na hora da Copa, os argentinos viram inimigos? Tem uma propaganda que uma lata de cerveja chama os argentinos de "Maricón". Deus do céu! Estimula homofobia e esquece o padrão moral. Não sou assim.Abraço

Claudinei Souza disse...

Em suas palavras relembrei da minha infância no bairro Bom Jesus. Fazíamos troféus de madeira e colocávamos bonecos da playmobil para compor a estrutura. Nós, meninos que éramos, vibravamos com a conquista do troféu dos meninos da rua de baixo. Pintávamos camisas brancas com números e propaganda para dar veracidade ao nosso uniforme. Como diria o rei Roberto Carlos, "velhos tempos, velhos dias..."
Obrigado por fazer-me lembrar de um tempo distante. A Copa de 82, na Espanha, foi muito marcante para a minha geração. Um time dos sonhos, de Valdir Perez à Zico. E o melhor técnico: o saudoso e inesquecível mestre Telê Santana.
Um abraço, Marra!

Unknown disse...

Graças a Deus, a Argentia vai à Copa e tomara que vá longe... Copa do Mundo tem que ter time bom.

Essas campanhas publicitárias são ridículas e sem criatividade alguma. Mesma ladainha de sempre: Argentina vs Brasil...

Estou com o Marra. Na Copa do Mundo, o que interessa é ver craques e bom futebol.

Foi assim em 82 com o Brasil de tantos craques, Argentina de Maradona e Kempes, Alemanha de Rumenighe, Italia de Rossi, Conti, França de Platini, Giresse, Tigana, Polonia de Lato e Boniek...Que Copa rica...

86 idem..Argentina, Brasil, França, Dinamáquina...

E por aí vai.

Se o competitivo time do Dunga não mostrar talento, tenho certeza que vamos ver Inglaterra, Espanha, Argentina ou alguma boa surpresa...

Copa do Mundo é dos craques. Não me lembro de um campeão que não os tivesse...

Marina Oliveira disse...

Olá, Marra.

Engraçado que, lendo essa sua coluna, fiquei com vontade de contar a minha experiência com futebol também. Serei breve.

Minha família sempre foi muito ligada ao futebol. Meu avô - que Deus o tenha - jogou pelo Guarani de Divinópolis. Se quiser, não devem existir muitas informações, mas você pode pesquisar, seu nome era Uilson de Oliveira (pode ser que encontre o nome escrito com "W"). Dessa forma, minha mãe cresceu ouvindo falar, ouvir e ver futebol. E, como era de se esperar, também eu fui influenciada. Tornei uma torcedora fanática pelo meu time, Cruzeiro, agora nem tanto pois outras coisas tomam uma parte boa da minha vida mas sempre que posso, procuro saber das novidades e também de outras coisas relacionadas ao futebol. Por ter me tornado amiga de um inglês, me afeiçoei ao Manchester United e fico ligada nas notícias do futebol inglês; por amar meu irmãozinho de seis anos de idade, acompanho os jogos do Flamengo; por ter escutado a CBN, conheci seus comentários, um pouco do seu trabalho e até da pessoa que você é e agora, até torcer loucamente pelo América-MG outro dia me peguei torcendo!

Todas essas influências sem interesse algum, simplesmente por gostar, por ter paixão. Olho o futebol atualmente que nem você, sem preconceito. E você tem uma boa parcela de culpa nisso! Por ser um comentarista, você tem de ser imparcial e profissional. Por gostar do seu trabalho, ouvindo seus comentários busco analisar e aprendi a gostar do bom futebol. Estou impressionada com essa mudança no meu comportamento. Radicalismo, em tudo na vida, não leva a nada. Seja no futebol, na política ou em qualquer concepção religiosa.

Abraços!