sábado, 2 de janeiro de 2010

Efêmero, fútil

Já passei reveillon em muitos lugares diferentes e fiz muitíssimas coisas diferentes, na hora daquela última contagem regressiva. Já passei abraçado a amigos, já namorei, procurei namorada, dancei, bebi, joguei bola na rua, dormi na praia e já dormi com fone no ouvido para não ouvir barulho. Confesso que não tenho muita paciência para contar a chegada da tal da sétima onda, mas já fiz muita coisa e com a minha intensidade, que alguns conhecem.
No último dia 31, na hora da contagem, estava no meio da rua tomando chuva e vendo os fogos. Danilo, meu filho e maior amor da minha vida, soltava uns "que maneiro, pai!", "olha aquele do outro lado!" e similares. Em um desses comentários minha mente me levou para um tempo bem distante. Tempo que passava com familiares e os velhos riam, brindavam, falavam alto e comiam muito. Nós, os pequenos, procurávamos atenção. Quem dava a atenção era sempre quem mais nos amava. E depois de um desses reveillons, os jornais, no dia seguinte, só falavam do barco que havia afundado e que várias pessoas haviam morrido. Fiz, naquele dia, uma reflexão que já mudou minha visão de mundo. Como pode ser assim? Enquanto uns dão risadas, falam alto e comem até a morte, outros nadam para a evitar morrer?
Novamente a coisa se repete. Eu festejava o amor do meu filho e outros pais viam a terra cobrindo a vida de quem mais amavam. Não! Definitivamente não estou sugerindo a depressão ou até o suicídio coletivo. Entretanto, questiono a celebração exagerada e o riso gratuito e falso. É certo que enquanto eu filosofo, em outro canto tem alguém desesperado e em outro lugar tem alguém morrendo. Assim é a sequência, assim é a vida, assim é a morte. O grande questionamento passa pela futilidade que une as pessoas no dia, hora, minuto e segundo.
O que vale a pena? O que vale? O que eles celebram juntos sem se conhecer.
No meu caso o que valeu foi a reflexão. Pensar é algo diferente, talvez ultrapassado.
Depois de ver fogos e mais fogos, coloquei o Danilo nas costas e voltei para casa. Pedi para que ele passasse uma toalha no rosto e no cabelo e tratei de fazer o rapaz dormir. Não sei qual imagem e qual pensamento ele terá no futuro. Sei que ele vai aprontar, rir, falar alto, comer e namorar. É o normal. Só espero que um dia ele pense. Como da minha herança ele não vai poder viver mesmo, pelo menos, que a reflexão faça parte do seu caminhar.

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